quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ESTOU DE VOLTA

Pois é, muito tempo depois e cá estou, pronta para retomar o que mal comecei. Mas como todo mortal, aproveito a chegada de 2015 para uma nova tentativa.
Não é fácil encontrar tempo para o que nos dá prazer, não é mesmo? Porém, o que nos dá prazer é o que nos faz feliz!
Estou carente de novas histórias sem tamanho e por isso resolvi colocar a mão na massa!
Nada melhor para começar o ano do que uma história fresquinha junto de uma novidade, o blog Historinha Sem Tamanho vai entrar no ar este ano, serão belas historinhas para ler para os pequenos num click!
Ótimo 2015 para todos!!

sábado, 5 de outubro de 2013

A Conversa



Dava pra ver o sol de lá. Era a única coisa que se podia ter certeza.

A lua, nem sempre se podia ver. Pelo menos não tinha sido vista em quase nenhuma daquelas noites.

De quando o moço estava preso, hoje velho, se lembrava bem. Lembrava de ver o sol, não ver a lua e do amigo argentino.

A prisão daquele tempo, se comparar com o que vemos hoje, é difícil dizer se era melhor ou pior. Mas com o neto ali, perguntando, tinha de dar uma resposta.

"_Era diferente"! Pronto, quem sabe assim parassem as perguntas. Mas o menino era insistente, queria saber era se o avô tinha apanhado. Via na televisão que gente presa apanhava, que não comia direito, que não tinha cama pra dormir e que dormiam todos atravessados e sem espaço.

“_É, era assim mesmo!” O avô achou melhor concordar com a maior parte, evitaria perguntas novas.
“_Mas e as visitas vovô? Podia ou não podia? Vi no jornal que a mulher foi visitar o marido e levou uma arma pra ele. A vovó levou uma arma pra você?”

A avó em questão escutava tudo de ouvido espichado da cozinha. Fingia que estava picando cebola, mas prestava mesmo era para ouvir a conversa.

Ela não ia nunca, não visitava, dizia que tinha medo. Mas se o avô contasse isso ao menino ia deixá-lo triste. Sem falar que conhecia a esposa que tinha e achou melhor não arriscar, disse só: "_Nunca me levou uma arma."
O menino riu como se já soubesse. A avó suspirou aliviada.

Quando o velho ameaçou levantar da cadeira de balanço, o neto disparou: “_ Mas e o argentino que você falou? Tava preso por quê? Ele não devia ter ficado preso lá no país dele?”

O avô logo se lembrou do argentino dizendo: “_Podia ter ficado preso no meu país, mas lá já estaria morto”.
"_Devia, devia sim. Mas fez seu crime aqui, daí não teve jeito!" Respondeu mais devagar dessa vez, como se tentasse se lembrar
.
A avó lá da cozinha falou sozinha bem baixinho: “ _ Qual era o crime dele vovô?”
O menino, como num eco, disse: “_Qual era o crime dele vovô?”

Se o avô dissesse que o crime do argentino era pensar demais e depois escrever as coisas que pensava, não ia adiantar nada, ia deixar o moleque cheio de perguntas novas e o cheiro de cebolas fritas já estava dando sinal de comida pronta
.
_ “Ele abriu a boca quando não podia. Agora chega de conversa fiada, que essas coisas já passaram faz tempo! Você não tem nada pra fazer não?” Disse já se levantando.

O menino olhou pra fora, lá pra calçada. Fitou a rua vazia por um tempo, olhou novamente para o avô e disse tranqüilo:
“_ Eu tenho que escrever umas coisas que eu penso, da pessoa que mais gosto pra aula de história.”
 O avô passou a mão na barba branca e seca e respirou fundo. A avó, que escutara tudo com seu ouvido espichado, esticou o pescoço para ver como o velho sairia dessa.

Passou a mão nos cabelos do menino e arriscou: “_Se você quiser, eu te conto um pouco mais da prisão, do argentino e das coisas que passamos juntos.”

_ O menino olhou para o avô, se levantou rapidinho e falou calmamente: “_ Não vovô, tudo bem, tenho que esperar a vovó terminar de fazer o jantar pra escrever sobre ela, só estava passando o tempo mesmo.”

Naquela noite a mesa de jantar estava silenciosa. O avô olhava para a avó que sorria demasiadamente, enquanto o menino provava as mais doces cebolas fritas de sua vida. Não dava pra ver a lua.

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Arte do Blog

Algumas pessoas têm perguntado sobre os desenhos usados no layout desse blog. Quem leu o meu primeiro post, Chão Colorido, deve ter imaginado que os desenhos expostos aqui são dele, do meu pai. O nome dele é Jacinto, já ilustrou muitos livros, trabalha com artes gráficas e publicidade e já teve a honra de ilustrar para autores como o maravilhoso poeta Manoel de Barros. Como eu disse naquele conto, ele tem várias fases e essa, desses desenhos, me encanta especialmente! Vou postar desenhos novos por aqui, ilustrando meus contos, espero que gostem!